domingo, março 24, 2013

E...

e tem sempre esse gosto estranho as despedidas
e tem essa palpitação, essa urgência de sei lá o que...
e tem a conta virada e a fatura do cartão, suprimindo o amor
e tem a cama por fazer, a carne para descongelar, a roupa pra passar
e tem os quadros tortos e as paredes para pintar
e tem a balança que intimida
e tem a doença auto-imune pra tratar
e tem pilhas de documentos para serem emitidos
e tem os amores sazonais que por vezes temperam e outras azedam
e tem que resistir ao chocolate
e tem a meia que desfia
e tem Caetano dando o tom
e tem as noites de domingo melancólicas
e tem as angústias e as dores
e essas cicatrizes mal curadas
e tem um tanto de dúvidas e bem poucas certezas no cardápio do dia
e tem os livros esperando para serem lidos
e a falta de tempo
e tem que seguir
e tem que ser forte, ser rocha
e tem o dever de casa com minha filha
e tem a raiz do cabelo embranquecendo
e tem os pés de galinha despontando
e tem Saturno retrógrado, e os Chakras em colapso
e tem o descontrole, os hormônios, a TPM
e tem a endoscopia pra fazer
e tem o contra-cheque, o contra-tempo, o contra-gosto
e tem que existir
e declarar o imposto de renda
e tem os sonhos deixados pra trás
e tem a glicose em desequilíbrio
e tem o colesterol alto
e tem o salto alto
e tem que passar no chaveiro, consertar o ferrolho
e tem as lembranças
e tem as saudades
e vem o cansaço
e não tem desfecho
Fecho os olhos e adormeço.

Um comentário:

Fala que eu te escuto