quinta-feira, julho 28, 2011

Sorriso

- Será que você pode ficar imóvel por alguns segundos?
- Agora?
- É, não fala. É que assim, do jeito que você está, encostado no parapeito com essa luz calma do dia amanhecendo e esses primeiros raios de sol tocando os seus cabelos, iluminando uma parte do teu rosto e deixando a outra parte ainda na penumbra fazem você parecer um anjo, quero esse instante só para mim, quero guardar essa tua imagem. Me desculpa, só vão levar alguns instantes...
Silêncio.
- Pareço tola para você?
- Não, parece que me ama.
- Amo tantas coisas em você, mas não sei dizer se te amo inteiro. Vamos deixar assim, que assim tá bom, não tá?
- Me diz você, porque é você que gosta de momentos imóveis, palavras bonitas, é você que é difícil, eu não, eu sou simples, sem mistérios.
- Não, você é muito mais difícil que eu, só não me mostrou ainda, porque você se esconde? As vezes acho que nunca vai me deixar entrar né? Me dá um brechinha, uma rachadura que seja, e deixa o resto comigo.
- É que eu tenho medo de você, de não estar a tua altura, de te decepcionar. Pareço covarde?
- Não, parece que me ama.
Ele sorri inocente.
- Viu?! Viu só?! Esse sorriso, esse sorriso, amo esse seu sorriso, acabei de descobrir ele, foi diferente dos outros que você me deu, pareceu uma brecha para mim! Você sorriu com os olhos, com o corpo todo. Obrigada!
- Ninguém nunca me agradeceu por um sorriso! (rindo)
- Eu te agradeço por tudo, cada parte sua que você me dá, eu te agradeço por todos os sorrisos e as lágrimas, não quero te possuir nem te pertencer, só quero isso...Essa troca fácil, espontânea, verdadeira.
- Eu tenho medo de você as vezes!
- Eu também tenho medo por nós dois, mas não quero deixar isso embotar em nada todas essas sensações que você trouxe para mim. Medo faz parte, a gente tem nossa bagagem, nossas dores, nossas mágoas, são parte de nós, isso acovarda mesmo, mas vai passar, sempre passa! Só tem uma coisa que eu queria que fosse diferente desta vez.
- Só uma?
- Sim, só uma. Não quero perder o encantamento das descobertas, como a que eu acabei de fazer com o sorriso de agora pouco. O que me dá medo mesmo é não saber como fazer isso, manter esse frescor da estréia, devia haver um jeito de não perder isso, devia ter um método, uma oração, uma simpatia...Sei lá! Faz tão bem, é tão bonito!
- Não tem não, nem receita, nem mandinga que possam segurar o momento, essa sensação é única, mas é breve, você sabe que é! Mas nesse momento é só nossa, sempre poderemos nos esconder aqui se um dia a rotina não mais nos permitir encontrar novos olhares, novos toques, novos sorrisos.
- Você tem razão, não tem jeito, nossa história vai se escrevendo alheia aos nossos desejos, mas porque olhar para frente agora se posso olhar para o teu sorriso? O primeiro sorriso que você criou só para os meus olhos. Eu te amo sim, sem reticências, dúvidas ou mágoas, vamos aproveitar enquanto o amor ainda é fresco e jovem, talvez ele não dure, mas isso não importa agora, quero morar nesse teu sorriso! Me deixa?
- Vem. (E ele sorri.)

terça-feira, julho 19, 2011

Recomeço

Não existem desculpas a serem pedidas, o certo e o errado se confundem a todo momento, são abstrações, simulacros. Também já não procuro respostas porque elas não serão encontradas, uma vez que cada um trilha a sua própria verdade e cada um é escravo de seu julgamento unilateral, essa busca voraz por respostas demanda tempo e energia, nao os tenho mais.
Precisei desfazer os nós e transformá-los em laços. Tirei as ervas daninhas e cultivei belas roseiras, ainda não floresceram em botões, mas as rosas virão, sim, elas virão, assim como veio o dia seguinte que parecia não chegar.
Estou mais forte, mais resistente, estou mais livre, mais calma. Precisei ser mar em furia para desfrutar a calmaria, precisei deixar correr a vazante para refazer meu sossego, minha paz, e hoje a quero mais que tudo.
Um dia lembrarei de tudo com um sorriso, mas por agora o passado jaz em seu lugar devido, na quietude da memória.
Olho pra frente, porque não existe outra opção e mesmo que houvesse, não traria a esperança que o futuro traz...Parece que aprendi, a duras penas, a fazer as escolhas certas, ver a esperança ao invés do arrependimento, enxergar novas oportunidades que frutificam dos erros cometidos.
Aprendi a ter fé, a ser plena, a me amar, só quero o bom e o belo, agora que ja vi e senti o feio e o vil, mas precisei experimentá-los para poder não mais escolhê-los, precisei ir até o fim para começar a olhar reto. Me livrei do meu lado sombra, para viver na plenitude, machuquei pessoas que amo, mas elas descobrirão que me fizeram bem e saberão me perdoar, precisei disso para tornar o meu amor mais perfeito para de novo entregá-las.
Hoje abraço a vida que me sorri, hoje quero viver sem dor, achei que nunca aprenderia, mas aprendi.
Ainda caminho sobre terreno arenoso, e quem não caminha? A qualquer momento posso afundar, ou cair, ou vacilar, mas tenho a certeza de que saberei recomeçar, isso é que é bonito em viver, nem sempre fácil ou agradável, mas bonito e puro - RECOMEÇAR.
Lhes digo: A vocês que me amam, a vocês que nem me conhecem, a vocês que um dia me encontrarão, a vocês que um dia virei a amar, a vocês que me amarão, estou inteira de novo, precisei me fazer em mil pedaços para chegar até aqui, mas estou inteira de novo, e mais forte, menos amarga, sem armaduras, porque descobri que elas só nos pesam e não nos protegem de absolutamente nada, estou mais disposta, mais feliz, mais capaz de amar e de sentir.

sábado, julho 02, 2011

Oi Murphy!!!

Estou completamente convencida que certas coisas só acontecem a certas pessoas. É um fato cósmico, cármico e não há como ir contra esta sucessão de eventos misteriosos que me acometem dia sim e outro também...

Outro dia andando pelo centro do Rio derrubei uma carroça destes porquinhos de cerâmica pavorosos que os ambulantes andam vendendo por aí, dei um prejuízo ao vendedor de 5 porquinhos quebrados e eu sem um tostão no bolso não tive como pagar, já que ambulantes ainda não aceitam redeshop, nem cartões de crédito...Resultado: eu, que detesto chamar atenção em locais públicos, fui alvo de ambulantes (sim, os outros se uniram ao dono dos porcos em um ato de solidariedade) enfurecidos num raio de 1km que gritavam - Faça ela pagar, faça ela pagar!!! O ambulante suíno, incitado pela voz da massa, foi se aproximando e gritando, querendo saber em que momento exato eu ia colocar a mão na carteira pra pagar os benditos porcos, como desgraça pouca é bobagem, o sinal em frente (minha única saída) estava aberto e eu comecei a ficar encurralada entre os ambulantes, que pareciam ter saido de algum filme do Stephen King, e o fluxo tremendo de veículos da Rio Branco, como sempre faço em momentos de pânico, comecei a cantar mentalmente: The hills are alive with the sound of music, lalalará...mas não me acalmei. Depois de 1 minuto que pareceu eterno, o sinal abriu e eu me apressei em atravessar gritando ao pobre homem pedidos sinceros de desculpas, depois deste evento lamentável, desenvolvi a SPPA - Síndrome de Perseguição por Ambulantes e até hoje ando olhando pra trás de 5 em 5 minutos, com medo de que alguém tenha marcado a minha cara e queira me matar...

Na sexta-feira marquei um encontro com um cara que conheci na net há oito meses, ele está no Brazil de férias e me ligou pra desvirtualizarmos a parada.
Eu que não saio com ninguém há uma eternidade virei um poço de ansiedade e mais do que depressa liguei para o 911 feminino - O salão de beleza (lógico)!!! Marquei cabelo e unhas, queria dar uma massageada no ego e um upgrade no visu!!! Mas antes era imprescindível passar no banco, rezando pra que desse tempo de fazer tudo em 1 hora de almoço!!! E daria se...a fatalidade não tivesse me acometido uma vez mais, ao sair do banco já com minha auto-estima melhorando por conta do cabelo e das unhas ainda nem feitos, e com 30 minutos ainda restantes do horário de almoço, minhas sandálias arrebentam, e não foi uma, foram as duas ao mesmo tempo!!! Quais as chances disto acontecer com alguém normal??? Mas não era qualquer pessoa, era EU! Corri, como pude já que minhas duas sandálias estavam arrebentadas, até a sapataria mais próxima e só de raiva pedi a sandália mais linda da vitrine e logicamente... não tinha o meu número. Abidquei de todo o meu senso estético e perguntei o que vc tem no número 39? Ao que a vendedora, com um certo olhar de malícia ao notar minhas sandália arrebentadas, me aponta a rasteirinha mais sem graça do universo e diz com um sorriso fingido de simpatia forçada e um quê de crueldade no olhar: Só tem essa no seu tamanho. Inconformada e puta da vida saio eu com a rasteirinha no estilo Gabriela Cravo e Canela.
Saio da sapataria faltando 15 minutos pra acabar minha horinha de almoço, cabelo e unhas em estado crítico, auto-estima caída, bufando como um touro enfurecido e com vontade de bater em alguém.
E vou assim, IN NATURA, pro meu tão esperado encontro, pra completar o dia perfeito, depois de nosso agradável jantar, vou ao toilette e quando me olho no espelho, encontro um enoooorme pedaço de bife no meu canino superior!!! AHHHHHH!!! Isso não está acontecendo, isso não está acontecendo... procuro algo afiado pra cortar os pulsos, mas não tem nada perto. Ok, procuro me acalmar repito no espelho o meu mantra de auto-ajuda: - Tudo está bem no meu mundo, tudo está bem no meu mundo!!! Mas não adianta, resolvo achar graça da situação, volto pra mesa com cara de puta, conto o que aconteceu, faço uma piada de mim mesma, ambos riem e a noite segue seu curso... Obviamente ele a esta altura ja perdeu intencionalmente meu telefone, mas pelo menos aquele dia passou e eu sobrevivi!!!

Esperando que minha vida sigo o roteiro destas comédias românticas batidas, onde primeiro tudo dá errado para depois tudo dar certo, eu vou levando, renovando as esperanças e me imaginando em alguma escarpa florida vestida de camponesa cantando The sound of music a plenos pulmões sem nenhum Capitão Von Trapp por perto.