sábado, setembro 22, 2012

Balzacas...

Honoré de Balzac
O bom de ser balzaca?

Sei lá parece que a gente vai se conhecendo melhor, se sente mais a vontade com o que se é, aprendemos a rir mais, nos importar menos, valorizamos mais as vitórias e aprendemos a rir das derrotas.
Mas de tudo, de tudão mesmo, o que eu mais valorizo daqui do alto dos 34 é uma qualidade até meio escrota, que nem sei se dá para colocar na prateleira das qualidades, é mais um ponto de vista... É aquela manha que a gente pega de rir de si mesmo, tirando o peso das coisas, porque nessa altura da sua vida, já caiu aquela ficha, do tamanho de um bueiro, de que as coisas podem dar certo, mas muitas vezes dão errado e a gente se rala, tropeça, se lasca, engole sapo, chora no travesseiro, imagina se seria mais rápido e menos sofrido se jogar do trilho do metrô ou tomar um coquetel de ansiolítico, se quebra, se dói e ainda assim aprende a rir disso tudo, até das esperanças frustradas e ilusões perdidas. Porque nesse ponto da vida a gente já quebrou a cara tantas vezes, que a gente percebe que esta é só mais uma, nada demais, daí vc pede uma dose de José Cuervo com limão e tudo alivia.
Aos 18 vc é linda, fresca, rígida, tem uma bunda incrível mas perde tanto tempo precioso sofrendo pelo carinha que não liga, pelo amor perdido como se fosse único/último/especial. Aos 18 a gente planeja demais, sonha demais e executa bem pouco. Aos 18 temos pouquíssima experiência com fracassos e eles parecem terríveis demais. A gente sonha com uma independência utópica sem saber exatamente o preço dela. Aos 18 a gente se preocupa demasiadamente com as opiniões alheias (que grande perda de tempo!)
Aos 30 e bolinhas nós já desapegamos dos planos inflexíveis, dos amores perfeitos, da auto-censura militar, dos dogmas e das regras impostas, aprendemos a ler pessoas e a julgar menos e o melhor é que ainda existe muito, muito, muito amor para recomeçar!

terça-feira, setembro 18, 2012

Conversa de banheiro

- Chega nele! Ela diz enquanto faz ginástica facial para retocar o rímel.
- Que? Comeu cocô? Não sou dessas, vc sabe. Sou do tipo que espera...
- Babaca!
- Babaca não, conservadora!
- Trouxa!
- Tradicional!
- Vc tem mais de 30, vai esperar até sua gengiva ficar exposta e ter que lavar seus dentes fora da boca?
- Vc é tão assertiva que chega a asfixiar...
- Sou nada, vc que é tão lesma-lesa que me faz parecer um oficial da SS!
- Mengele!
Ela ri da comparação faz uma careta e volta à retórica...
- Vc sabe que te amo, mas poha, até quando vc vai fazer papel de Suiça na vida?! Vc precisa se posicionar, opinar e cagar baldes para a opinião alheia!
- Note que isso não é uma escolha, você não acorda um dia e diz - Hoje vou fazer o que me der na telha e exercer o meu direito genuíno de cagar baldes! Não é assim droga!
Deve ser um gene, um cromossomo sei lá... Vc é um vórtice de auto-confiança, e eu... Bom eu sou esse poço de insegurança, assim é a vida. Para de me encher!
- Tudo, tudo, tudo, TUDO na vida é escolha, quantas vezes mais eu preciso repetir para que essa verdade universal entre na sua corrente sanguínea!? Vc é tão comprometida com sua autocomiseração que me dá vontade de... de... sei lá... Cuspir em você!
- Poutz, auto-ajuda de banca de jornal de novo, lá vem você... Pq vc faz tanta questão de me convencer que estou errada? É só o meu jeito, isso também me define droga, é parte do que eu sou, é o que me faz ser eu! Pontos de vistas minha cara, nada mais, nem certo, nem errado...
- Peguei pesado?
Ela muda o tom e tira um mecha de cabelo caída sobre meu rosto.
- Não, tudo bem. Já conheço esse teu jeitinho amoroso de fazendeira russa!
- Sabe o que é? É que eu te adoro tanto e te admiro e sei lá... Queria que as pessoas te vissem pelos meus olhos, vc é tão única, tão especial!
- Solidão não é doença! Que mania é essa que as pessoas têm de achar que só estão completas quando tem alguém? Quando foi que ficamos tão emocionalmente dependentes? Eu sei que você não acredita, mas ó... Eu tô bem pacas, a vida corre em paz, tá confortável aqui onde eu tô! De verdade!
- Sabe, as vezes eu queria morar dentro de vc só um pouquinho para perceber o mundo do teu jeito... Vc é um paradoxo ambulante! Num momento te sinto tão ingênua e desamparada e em outro tão desprendida e auto-suficiente...É intencional?!
- Não, não... É patológico mesmo! Tem casos de esquizofrênia na minha família!
Ela ri e retruca carinhosamente:
- Teu cú!