É janeiro, o tempo tem uma pressa
louca. Acende um incenso de Jasmim Massala, pra acalmar a alma. Chove. Fora e
dentro. Não é tristeza, é alguma urgência louca que inventa, um medo besta,
desses que paralisa, igual a veneno de cobra.
Há 38 anos sente medo, não aprende a superá-lo, só coexiste, em conflito
permanente. Oriente Médio emocional. Companheiro cruel, irônco e sádico. O criou,
seu monstro, Mr. Hyde. Onipresença sufocante.
Porque faz isso? Porque machuca assim? Nossa mente pode
ser um cárcere solitário.
38 anos e ainda precisa de uma
mão que guie. Será sempre assim?
Foi fazendo o caminho sem notar,
essa mão que guia nunca apareceu, ainda é só, desbravando, abrindo caminhos
mesmo sem perceber, porque não há outra opção além de seguir. Apesar da
consciência de que sempre foi a mão guia, o medo atormenta, embota os sentidos,
ainda paralisa. O que a faz seguir lado a lado com ele? Deve ser alguma coragem
covarde que a habita, nada heroico, só uma coragenzinha tímida, o suficiente
pra fazer ir adiante. Talvez nem seja coragem, coragem é um adjetivo muito
glorioso pra essa flâmula frágil e oscilante que carrega, provavelmente é só o
instinto de sobrevivência mais básico e rudimentar, presente em cada ser desde
os primórdios da humanidade.
Toca “Carmina Burana”. Busca a
força da música. É poderosa, destemida, vibrante, crescente, arrepia os pelos.
Ajuda. É terapia rudimentar mas valiosa, a música salva!
Acende um cigarro. Acende tudo
que pode fora para iluminar dentro. Ajuda mas é fulgaz.
Não busca mais respostas, porque
quando as encontra surgem novas dúvidas, uma dialética sem fim. Ouroboros, a
serpente que devora a própria cauda. Eternidade. Respostas são ilusões
dissimuladas. Cortina de fumaça.
Mas o que faz aqui, analisando sua
psique em crônica, senão desesperadamente buscá-las? Sim, as respostas. Essas
ninfas mitológicas e fugidias num bosque escuro e triste repleto de dúvidas,
permeado de medos.