Quando você é depressiva, a
primeira batalha do seu dia é contra sua mente, seus sentimentos, sua contínua
e massacrante incapacidade de adequação ao cotidiano, essa dor que é viver.
Nunca apta, nunca inteira.
Me lembro de um filme de minha
infância em que o personagem principal lutava contra o avanço do “NADA”. Esse "NADA-conceito" personificava o vazio da ausência de motivação, esperança e luz. Era o mal em sua
forma mais primitiva, não inerentemente mal, mas o mal pela ausência absoluta do
bem e do belo.
Tive tanto medo daquele vazio, da
quase morte de tristeza do herói solitário em um pântano de angústias, quando
ele perde seu cavalo e se percebe sozinho pela primeira vez. Insolitamente,
para uma menina de 7 anos, aquele sentimento
me pareceu tão meu...
Nós somos inimigos cruéis de nós
mesmos, nos conhecemos bem demais, cada falha de caráter, cada ponto obscuro de
nossa persona, cada meandro escondido de sentimento, temos munições demais, é
uma luta injusta, silenciosa e absurdamente dolorosa porque nos fere em nossos pontos
mais fracos, abre as feridas que julgamos cicatrizadas.
Segui sozinha o resto do caminho,
mas diferente do herói resignado que busca forças para sair da lama de seu pântano
de desespero
, eu olhei para o abismo e não consegui mais desviar meu olhar dele.
, eu olhei para o abismo e não consegui mais desviar meu olhar dele.