Ele tinha um charme displicente, não era bonito. Não, espera... Ele era
bonito, mas não de um jeito convencional. Talvez não bonito precisamente, bem,
convenhamos, beleza é um conceito muito abstrato, difícil de definir... Vamos
deixar isso de lado! Mas a boca, ahhh a boca era bonita, limites precisos,
labios grossos, masculinos, o cabelo também era bonito, é isso... Ele era
bonito em partes, o conjunto era meio caótico, underground, mas quando eu o
olhava em módulos ele mandava bem, mas enfim, um parágrafo inteiro falando de
beleza é uma perda de tempo, porque no fim das contas isso acaba perdendo a
relevância, especilmente quando o assunto é o Zi, ele não é um cara como os
outros, ele é livre... Nas idéias, nas ações, nas palavras, nas crenças. Isso
primeiro assusta, depois enfeitiça e por fim vicia. Ele repele preconceitos e
abraça diferenças, ele ousa, ele usa metáforas com maestria. Adoro gente
metafórica, pessoas literais cansam um pouco, ele nunca é enfadonho e
desconhece o lugar comum, não é o tipo popular, nem tenta ser, ele é
a palavra não dita, as entrelinhas, a pausa depois do ponto, o fôlego ao sair
do mar, ele transcende...
Nós fomos um binômio estranho, antagônicos e ao mesmo tempo tão afins!
Isso dá choque... É que na real, a gente era um casal improvável, impreciso, sem contornos ou fronteiras...
A minha história com o ele foi breve, como é breve tudo que é belo. Mas sempre
trago ele comigo junto com um sorriso e uma saudade-brisa, dessas que ao
invés de trazer tristeza, acalma.
Podia ter sido um lance legal, podia ter sido O LANCE, podíamos ter sido
um casal, mas não fomos, fomos ... sei lá o que fomos... Um encontro, uma
palpitação, uma urgência, uma vontade, uma crise, uma despedida. Fomos um
curta-metragem, tá bem que de ótima qualidade técnica e roteiro incrível, mas
quando a gente precisa de mais... Sobem os créditos finais.
De todo o jeito ele me mudou, mudou meu ponto de vista, sou grata a ele por ter conseguido o que quase ninguém conseguiu, me deixar olhar a mim mesma
pelos seus olhos sonhadores, de um modo que eu jamais veria se ele não tivesse
me mostrado, ele tinha essa capacidade de captar ângulos da vida que para
qualquer outro passaria despercebido.
Eu, com minha insegurança de adolescência tardia, desconfiei dessa
originalidade pomposa, de sua peculiaridade meio selvagem e de seu discurso
libertário, deconfiei muito dessa fome que ele tinha de vida e de sua
voracidade diante do novo, tive medo de me perder na imensidão que ele era.
“O
medo te protege” ele dizia, mas também dizia que logo não seria mais necessário
sentir medo e então, nesse momento, nos encontraríamos. O momento não chegou,
eu preferi o medo e a calma dos meus dias mornos, bem verdade que não cheguei a
me ferir em sua chama, mas seu calor foi suficiente para me deixar com um frio
que não passa desde que me afastei dele.
Depois que a gente conhece alguém assim, vc simplesmente não volta a ser
o que era... E não tem paralelo, não tem semelhança, não tem comparação feliz
que me faça acreditar que existirá alguém igual novamente. Ele era o inefável!
Não vou comentar o texto agora, porque essa obra requer que eu me debruce sobre ela; exige que eu escolha as palavras com justiça e carinho, com vontade e força, parágrafo a parágrafo, como se eles fossem naves em combate, como se ler o texto já fosse em si uma espécie de "dogfight". Por isso não vou comentar agora.
ResponderExcluirObrigada, um só não, vários obrigadas em série!
ResponderExcluirIgual acho impossível. Apenas diferente, com uma pitada a mais ou a menos de pimenta! Excelente texto. Parabéns!!!
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