E acabou assim, eu recitando Ausência de Vinícius de Moraes (sim, eu sei de cor) e ele com aquela landscape face, tão característica, me olhando meio sem entender...Graças a Deus eu nunca precisei fazer sentido e nunca desejei isso tampouco, isso me garante a autenticidade que, mesmo sem ele perceber, o fez se apaixonar por mim e o faz sempre voltar ao ponto de saída, tipo joguinho de tabuleiro: VOLTE UMA CASA.
Mais uma despedida, e foram tantas que eu perdi a conta, ele parece ser um Deja vu perene, vitalício, lei do retorno mode on, falha na matrix, whatever...
Agora eu tô aqui, passeando nas lembranças que vão desbotando, perdendo os detalhes, descolorindo pouco a pouco, é meio incômodo perceber que a gente se tornou mais passado que futuro e ainda assim tá difícil deixar ir, me sinto como a Rose de Titanic tendo que abandonar o corpo do Dicaprio congelado em algum ponto do mar do norte...É duro abandonar o Dicaprio em qualquer estado que esteja o seu corpo né?! Pois é...Mas a vida segue e eu preciso pegar o bote salva-vidas que vai passar a qualquer momento, sei que vai, tô doida para ouvir o apitinho e o chamado: Tem alguém vivo aí? Tem sim, pega eu, tô meio capenga mas tô vivinha, pronta para ir à vida!
Mas eu tô legal e repito isso para mim mesma no espelho, é o meu mantra e um dia vai funcionar, é aquele velho clichezão: Uma mentira dita repetidas vezes vira verdade!
Um dia vou acordar cantando I´ll survive, colocar minha melhor roupa, dar um tapa no vizu, amarrar a faixa vermelha na cabeça, no melhor estilo Rambo e vou à luta. Deixo toda essa bagagem que teimo ainda carregar nas minhas costas e saio por aí levinha e soltinha, podiscrê!
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Ausência
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinícius de Moraes
Você é demais!
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